terça-feira, 22 de abril de 2014

Morgana fala… .( Sobre o país das fadas )


Morgana fala…

Até hoje nunca soube quantas noites e dias passei no país das fadas – até hoje minha mente se torna confusa quando tento fazer a conta. Por mais que me esforce, não acredito que fosse menos de cinco, nem mais de treze.

Tampouco tenho certeza do tempo que transcorreu fora dali, nem em Avalon, enquanto estive lá, mas como a humanidade registra melhor a passagem do tempo do que no país das fadas, sei que cerca de cinco anos se passaram.

À medida que envelheço, penso cada vez mais que talvez o que consideramos como o passar do tempo só acontece porque adquirimos o hábito, terrivelmente arraigado, de contar as coisas – os dedos de um recém-nascido, o nascer e o pôr do sol -, e por isso pensamos com muita freqüência no número de dias ou de estações que devem transcorrer antes que o grão amadureça, ou nosso filho cresça no ventre e seja dado à luz, ou que algum encontro muito desejado se concretize.

E o registramos de acordo com o passar do ano e do sol, como o primeiro dos segredos sacerdotais. No país encantado, eu nada sabia do tempo, e portanto para mim ele não passava.

Quando dele sai, descobri que já havia mais marcas no rosto de Gwenhwyfar e que a deliciosa juventude de Elaine começava a desaparecer.

Minhas mãos, porém, não estava mais magras, meu rosto continuava intocado pelas marcas ou rugas, e embora em nossa família os cabelos embranqueçam cedo – aos dezenove anos Lancelote já tinha alguns cabelos brancos -, o meu estava tão negro e intocado pelo tempo quanto à asa de um corvo.

Cheguei a pensar que quando os druidas retiraram Avalon do mundo da contagem e do registro constantes, isso também começou a acontecer ali.

O tempo não flui sem medida em Avalon como num sonho, ou como no país das fadas.

Não obstante, o tempo começou a correr ali mais devagar. Vemos a lua e o sol da Deusa e registramos os ritos nas pedras circulares, de modo que o tempo nunca nos abandona totalmente.

Mas não corre paralelo ao tempo de outros lugares, embora se possa pensar que se os movimentos do sol e da lua fossem conhecidos de todos, o tempo em Avalon teria de passar do mesmo modo que no mundo lá fora… Mas não é assim.

Nestes últimos anos, eu podia passar um mês em Avalon e descobrir, quando saia de lá, que toda uma estação ocorrera lá fora.

E ao final daqueles anos, isso sucedeu mais amiúde, pois eu não tinha paciência para ver o que acontecia no mundo exterior.

E quando as pessoas viam que eu continuava sempre jovem, então me consideravam, mais do que nunca, uma fada ou uma feiticeira.

Mas isso foi muito, muito tempo depois.

Pois quando ouvi a Raven dar aquele grito aterrorizador que varou os espaços entre os dois mundos e chegou até mim, onde eu estava, no sono intemporal do mundo encantado, eu parti… mas não para Avalon.

FONTE: Retirado de As Brumas de Avalon – A Grande Rainha, pág. 229 - 230

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